Os livros, assim como a música, as fotografias e os diários, são meu alimento e companhia desde criança. Meu tio Assis era o único que se intrigava em me ver tanto tempo colada em algum livro, apesar de desde sempre ser algo raro em uma criança o restante parecia não perceber. O primeiro livro de verdade, mais grosso que parecia um livro de adultos, foi AS VIAGENS MARAVILHOSAS DE MARCO PÓLO e adorei a experiência e passei a frequentar a estante de livros de casa organizando e separando os que me interessavam.
Assim comecei a ler José Mauro de Vasconcelos, CORAÇÃO DE VIDRO foi o primeiro e me fez chorar com a triste vida de um sabiá, de um peixinho dourado, de um cavalo e de uma árvore. Ali entendi que livros são poderosos. Não sei ao certo porque mais em casa tinha muitos livros dele e assim segui lendo, passei pelo famoso MEU PÉ DE LARANJA LIMA que virou filme, VELEIRO DE CRISTAL, FARINHA ORFÃ, CHUVA CRIOULA, AQUECENDO O SOL e ...LONGE DA TERRA.
Passados quase 40 anos resolvi saber mais sobre esse autor, e sobre esses livros que li. Para minha feliz surpresa José Mauro, nascido em 1920, era um cara diferenciado. Filho de mãe indígena e pai português com poucos recursos, foi criado pelos tios. Além de sua carreira de autor, foi instrutor de box, ator e até estudante de medicina, curso que abandonou no inicio preferindo viajar pela Europa. Também é reconhecido pelo importante trabalho feito junto dos irmãos Villas Boas pelos rios da região do Araguaia, onde passou a lutar em defesa dos povos indígenas e onde preferia estar.
Meu próximo passo será reler esses livros e compreender essa afinidade da menina com esse autor. Mas reconheço em mim, talvez por essas leituras, o respeito pelos povos indígenas, pela natureza e cultura do meu país e pela liberdade. A importância de José Mauro de Vasconcelos não é devidamente reconhecida no Brasil.
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